meus fragmentos
passei a noite do sábado tentando descobrir se os cílios dela eram ruivos ou loiros
se algum caísse na minha mão,
eu não teria qualquer tipo de pedido
nenhuma cobrança
nenhum requerimento
nenhuma ambição
só estou deixando a areia da ampulheta cair e construindo meu mar
se é que dá pra moldar algo assim
não tenho mais medidas
limites
cercas
eu não queria ter desviado da boca dela quando o motoqueiro gritou e a mãe segurou a mão de sua criança como se nós fôssemos o dragão de três cabeças do apocalipse (ou algo do tipo)
nem o frio daquele campo aberto me meteu medo
não era medo, era espanto
não era espanto, era surpresa
seus centímetros gigantes
seu riso maior que a voz
estou quase cansado de contar as mesmas histórias de como conheci e esqueci alguém
de como quase odeio meu trabalho, mas adoro as pessoas de lá
de como quero me mudar
ainda que esteja me transformado sem sair do lugar
então contei hoje de novo pra outra pessoa
ela tinha os ombros largos
e joga futebol americano
bloquearam seu APP
daí a levei num ponto de táxi quase próximo
chovia
me disse sobre como áries pode nos ferrar
eu não acredito muito nessas coisas
mas ela falou com tanta certeza que não tive como duvidar
eu podia ter tirado uma foto sua naquela luz baixa entre tacos de baseball, mate e cerveja
está tudo dentro da minha cabeça tudo dentro da minha cabeça
precisei tirar umas coisas de lá
nada me faz falta
eu sinto saudade do sereno na barraca quando eu acampei em 2011
nothing more
minha clavícula na sua clavícula
e fomos embora
ela gritou de dentro do carro
“me avisa quando chegar”
eu estava há duas ruas do meu novo andar
há alguma coisa entre meus pés e cabelo que as faz me avisar de como eu necessito ser inquebrável
não adianta
e nem faço questão
se não fossem a sola cortada dos meus sapatos e o dinheiro trocado no meu bolso, eu nunca chegaria aos seus avisos e consolos
até o centro da Terra é fragmentado
por que eu não seria?