imagem: Salvador Dali

        SONHOS PERDIDOS

  
ideias embaralhadas
pedaços de sonhos desfeitos
ilusões rotas
meias verdades
lembranças apagadas
páginas amassadas
sonhos perdidos


Tudo ali naquelas gavetas empoeiradas
Carcomidas pelas traças da realidade
Encardidas de tantas ambiguidades
Encharcadas das lágrimas vertidas...

Era hora de arrumar as gavetas da vida
Jogar fora tudo o que trazia dor
Deixar apenas a realidade que existia
E seguir em frente sem rancor

Na gaveta das meias femininas
um excesso de embalagens vazias
onde ali já houvera passos em falso
em direção a becos sem saida...
E no chão da sala absolutamente limpa
ela ia jogando fora uma a uma as caixinhas
as meias que já não usava mais
as espectativas de novos caminhos que se
fizeram tortuosos demais...

E a faxina seguia em outras gavetas:
outras inutilidades eram descartadas
outras vontades vãs,
outras insanidades...


O assoalho ia ficando repleto de tudo
e as meias femininas se juntavam às masculinas:
meias de futebol, cadarço sem par
porta níqueis...


E este despojar fazia bem a ela,
assim descartava possibildades findas,
esperanças vazias em cada caixa que nada continha...


E junto desse lixo inútil ia 
o seu apego, seu amor malfadado
que ali se tornava passado
que era apenas um sonho desfeito
não, não tinha jeito!


E as gavetas iam sendo rearrumadas
Pouca coisa havia ali, mas era o que restara
Ela organizava então as sobras da vida

Com zelo, disposição e cuidado.

A vida seguia seu curso!



 
Adria Comparini
Enviado por Adria Comparini em 18/06/2015
Reeditado em 19/06/2015
Código do texto: T5281812
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