E Agora Poeta?

E agora meu caro poeta?

De que mais podes escrever?

Tua mente, outrora tão aberta,

Tantos hemisférios já pôde percorrer.

Escrevendo sobre a tristeza

E melancolia,

Versejando sobre a incerteza

De cada dia.

Foste criando teu repertório,

Foste treinando teu imaginário,

Foste rebuscando teu oratório,

Foste aumentando teu glossário.

Presenteaste dama bonita

Com linhas em rosa,

De ideia meio esquisita

Criaste mais uma prosa.

Expôs a revolta com veemência,

Retratando o sofrimento alheio,

Criticando ignorância e demência,

Pragas de todo centeio.

Quantas vezes dedicastes

Uma palavra simplória

Para alegrar a quem amastes

Com polidez notória.

Em diversas ocasiões

Lembraste dos excluídos

Espectros nas multidões

Desde sempre esquecidos.

Demonstrando terna compaixão

Em versos repletos de dureza,

Reflexos dum coração

Que há muito perdera a pureza.

Exploraste pouco os assuntos

Relacionados à felicidade,

Pois são trunfos

Pouco conhecidos de tua realidade.

E usaste desta criatividade

Como meio para conversar com Deus,

Sentindo muita saudade

Já disseste bastante adeus.

E depois de todos esses temas

Por eles caminhar,

Depois de tantos poemas

Lapisar...

Amizade, tristeza, rancor,

Felicidade, avareza, amor,

Saudade, incerteza, desamor,

O assunto seja ele qual for,

Não importa sua forma,

Seu tamanho, sua cor,

Tenha ou não musicalidade

Tenha mentira ou verdade,

Seja sobre política,

Ou até espiritualidade,

Contenha estatística

Ou ambiguidade,

Já fora escrito,

Debatido, pensado, indagado,

Em algum texto descrito

E em seguida publicado,

É, e agora meu poeta?

Sobre o que vais escrever?

A porta não está aberta,

Quem mais vai querer ler?

Hilton Boenos Aires.

10 – Fevereiro – 2012.

Caruaru – Pernambuco.