Vestígios de inverno
Pesam-me sobre os ombros,
os olhos tristes do mundo.
De um mundo que eu queria ver sorrir.
Um jardim com suor da manhã,
orvalhando as rosas da alma,
como um delírio para os olhos,
como uma música que salva.
Queria interpretar o canto dos pássaros,
para colar, cá dentro do peito, esses pedaços
e desatar os nós.
Mas a redoma está submersa,
a voz na cápsula não se ouve.
Os fungos aumentam no sopro dos ventos,
tudo parece podre.
Pesam-me sobre os ombros
os silencios das coisas desertas
de flores, de sol, de vida.
Que se acendam os cristais das fontes,
para que seja nosso algum horizonte
onde ainda nos aguarda a esperança perdida.