Poema I

O poeta não é poesia se não valoriza o pouco

Se não vê que o chão que alimenta o homem

Também há de ser o melhor amigo do julgado louco

E é lar merecido às belezas que da vida somem

Para que a delicadeza da vida viva n'outro.

Então por que menosprezar a lágrima dos que sofrem

E dizer ser pouco o sincero beijo que deram em seu rosto

Ou o afago dado a qualquer hora, sem pudores

Por pessoas que ainda brilham diferentes cores

Quando todos os desejos em dois olhos cabem

E o mesmo amor que destes beijos nasce

Fez nascerem todos os outros amores

E é tudo o que, no fim, afaga nossas dores?

Afinal, a mesma vida onde o mundo gira em dança

Desabrochará cada flor, sorriso e esperança.

O amor é único, como todo sentimento

Que não vê a quem e não procura razão

Não aspira por privação ou negação

E não tem tamanho, padrão ou momento

Pois a mesma vida que cria gigantes

Faz brotar da terra infinitos bichos rastejantes

E o mesmo contar do relógio que matou o vil inseto

Tornará poeira cada centímetro de concreto

Que hoje faz parte da nossa pretensiosa criação.

Extremos que fariam morrer o sentido do horizonte

Se prendêssemos o livre em nossas mãos

E tão logo perder-se-ia o sentido da imensidão

Se ela não coubesse em nossa própria imaginação.

Daniel Reis
Enviado por Daniel Reis em 29/05/2015
Reeditado em 29/05/2015
Código do texto: T5258978
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