A TERCEIRA VISÃO ( Celismando Sodré - Mandinho)

A TERCEIRA VISÃO

(Celismando Sodré- Mandinho)

O que você vê no escuro

Quando fecha os olhos...

Vê a necessidade de sentir

Seus neurônios brilhando

Ou vê apenas a ferrugem

Em seu cérebro infiltrando

Vê sua fértil imaginação

Em seus sonhos viajando

Ou vê apenas o tempo

Que vai passando

Vê a inquietação

Dos seus próprios pensamentos

Ou vê apenas ilusões

Desfeitas ao vento

O que você vê no escuro

Quando fecha os olhos...

Vê o outro como parceiro

Companheiro de uma mesma viagem

Ou vê apenas você

Seus desejos e vaidades

Vê as suas imperfeições

Buscando correção

Ou vê apenas suas glórias

E sua grande ambição

Vê os fenômenos naturais com espanto

Feito olhar de criança

Ou vê tudo com desinteresse

Sem fé e confiança

O que você vê no escuro

Quando fecha os olhos...

Vê os jovens como brotos

Prestes a florescer

Ou vê apenas futuros delinqüentes

A matar ou morrer

Vê as paisagens do mundo

Com um olhar artístico

Ou vê apenas coisas disformes

Sem qualquer valor estilístico

Vê o céu estrelado

Poético e maravilhoso

Ou vê apenas o espaço

Como algo assombroso

O que você vê no escuro

Quando fecha os olhos...

Vê a história de sua vida

Como num filme passando

Ou vê apenas as sombras

Sempre se aproximando

Vê a energia pulsando

Em todo lugar

Ou vê apenas os espectros

A lhe rondar

Vê soluções para os problemas

Da humanidade

Ou vê apenas maneiras

Para levar vantagens

O que você vê no escuro

Quando fecha os olhos...

Vê harmonia e lógica

Em toda a natureza

Ou vê uma sucessão de acasos

Sem nenhuma beleza

Vê a pureza das crianças

No parque brincando

Ou vê apenas seus inimigos

Ao redor espreitando

Vê paisagens bonitas

E pássaros a voar

Ou vê apenas o dinheiro

Que poderia ganhar

O que você vê no escuro

Quando fecha os olhos...

Vê pessoas contentes

Alegres a sorrir

Ou vê apenas os escombros

De um mundo a ruir

Vê a neblina que cai

Arco-íris formando

Ou vê mais um dia sem praia

Dentre tantos no ano

Vê saídas e caminhos

Nas encruzilhadas

Ou vê apenas uma velha

Porteira fechada

O que você vê no escuro

Quando fecha os olhos...

Vê com otimismo a esperança

Sempre prestes a triunfar

Ou vê apenas um mundo

A se deteriorar

Vê luzes coloridas

A te ofuscar

Ou vê apenas a escuridão

A te atormentar

Vê o mundo em sintonia

E a mente em expansão

Ou vê o mundo confuso

E a mente em regressão

O que você vê no escuro

Quando fecha os olhos...

Vê o insustentável

Leveza do ser

Ou sente um incrível peso

De ter que viver

Vê a vida com o prazer

De ter muitas amizades cultivadas

Ou sente apenas a angústia

De uma solitária caminhada

Vê sinais de algo além

Que foge a sua compreensão

Ou percebe apenas o que está

Diante da sua visão

O que você vê no escuro

Quando fecha os olhos...

Vê as peças do seu quebra-cabeça

Aos poucos se encaixando

Ou vê apenas pedaços da vida

Rapidamente se fragmentando

Analisa os indivíduos

Pelas qualidades e acertos

Ou vê apenas nos outros

Seus erros e defeitos

Vê que as famílias precisam sempre

Buscar a reconciliação

Ou vê apenas no mundo

Uma inevitável desunião

O que você vê no escuro

Quando fecha os olhos...

Vê pessoas se alegrando

Ao sentir você chegar

Ou percebe apenas a indiferença

Nos olhos de quem o ver passar

Vê seu corpo leve e solto

Flutuando no ar

Ou vê pesadelos e correntes

A te aprisionar

Enxerga a essência das coisas

Como um humilde aprendiz

Ou vê menos de um palmo

Diante do próprio nariz

O que você vê no escuro

Quando fecha os olhos...

Vê a necessidade de ser

Mais compreensivo

Ou apenas prega o ódio

Aos seus inimigos

Vê o quanto é importante

Respeitar as diferenças

Ou cultua a intolerância

Como sua única crença

Vê que perante o criador

No mundo somos iguais

Ou vê uma grande injustiça

Porque merecia muito mais

O que você vê no escuro

Quando fecha os olhos...

Vê a consciência perturbada

Diante de uma sociedade desigual

Ou vê apenas as injustiças

Como algo natural

Vê que fica indignado

Com a crueldade e a força bruta

Ou vê tudo normal

Como uma competição, uma disputa

Vê a necessidade urgente

De proteger o meio ambiente

Ou só vê matérias-primas

Bens de consumo em sua frente

O que você vê no escuro

Quando fecha os olhos...

Vê com preocupação

A extinção de espécies animais

Ou apenas pensa que vai morrer

E pra você tanto faz

Vê o quanto poderia ter feito

Pelo progresso, a paz e a união

Ou apenas acha perfeita

Na vida a sua atuação

Vê a falta de tempo

Para realizar seus projetos

Ou pensa que já fez o suficiente

Pois o futuro é incerto

O que você vê no escuro

Quando fecha os olhos...

Vê que não sabemos quase nada

Diante da imensidão por saber

Ou acha que é um grande sábio

E não tem mais nada a aprender

Vê que as inteligências são múltiplas

Cada um tem um dom especial

Ou faz questão de não ver nas pessoas

O seu grande potencial

Vê que a sociedade as vezes trava

O talento pessoal de cada ser

Ou despreza a capacidade

Que cada um possa ter

O que você vê no escuro

Quando fecha os olhos...

Acredita em tudo piamente

Sem procurar questionar

Ou mantém sempre a dúvida filosófica

Para a verdade encontrar

Vê forças energéticas positivas

Querendo contigo conectar

Ou obstrui todos os canais de acesso

Sem em nada disso acreditar

Vê o milagre da vida como uma mágica

Com agradecimento e admiração

Ou acha que tudo foi acidente

E que não há qualquer explicação

O que você vê no escuro

Quando fecha os olhos...

Vê que é humano e que falha

Nem sempre agindo direito

Ou tem dificuldades imensas

De reconhecer os próprios defeitos

Vê o perdão como virtude

Por isso busca sempre perdoar

Ou quando é ferido e insultado

Prefere o ódio acumular

Vê que os que vivem sem mágoas

São alegres e mais felizes

Ou prefere usar seu veneno

E não liga para o que dizem

O que você vê no escuro

Quando fecha os olhos...

Vê as ilusões e os perigos

Envoltos no poder

Ou vê apenas os privilégios

Que poderia ter

Vê o quanto corrompe

O dinheiro e o capital

Ou se embriaga com o que tem

Pois está acima do bem e do mal

Vê que quanto mais “grana” se ganha

Mais se quer sempre acumular

Ou apenas acha que o que vale mesmo

É poder consumir e esbanjar

O que você vê no escuro

Quando fecha os olhos...

Vê sonhos tão reais

Que faz a vida parecer ficção

Ou classifica tudo isso

Como fonte de sua fértil imaginação

Vê janelas e portas se abrindo

Possibilitando a sua evolução

Ou vê apenas o chão que pisa

E o que sente o tato da sua mão

Vê nos sonhos premonições

A alertar sobre o seu destino

Ou acha tudo uma grande piada

Fruto do seu próprio desatino

O que você vê no escuro

Quando fecha os olhos...

Vê seu filho triste a implorar

Um pouco do seu precioso tempo

Ou acha que não deve perder nenhum minuto

Nesses inúteis e insignificantes momentos

Vê que todos precisam de um abraço

De afeto e de muita atenção

Ou não cultiva nobres sentimentos

No seu endurecido coração

Vê que é preciso educar as crianças

Para no futuro ter esperança

Ou não se sente responsável

E de tudo mantém distancia

O que você vê no escuro

Quando fecha os olhos...

Vê todas as questões

Sob os diversos ângulos possíveis

Ou analisa tudo fundamentado

Em velhas opiniões inflexíveis

Vê as múltiplas possibilidades

Para se resolver um problema

Ou fixa sua atenção

Numa única saída ou estratagema

Vê sua capacidade intuitiva

Em encontrar soluções

Ou vê apenas coincidência

Nessas inter-relações

O que você vê no escuro

Quando fecha os olhos...

Vê que “existem coisas entre o céu e a terra

Que sequer imagina sua vã filosofia”

Ou só acredita no que pega e no que vê

Achando o resto a mais pura utopia

Vê possibilidades imensas

De existir outros mundos habitados

Ou apenas acha que só na terra há vida

Porque somos os únicos privilegiados

Vê que além da nossa realidade

Podem existir outras dimensões

Ou pensa nisso como algo impossível

Fruto das nossas imaginações

O que você vê no escuro

Quando fecha os olhos...

Vê o valor que tem

As pequenas-grandes coisas despercebidas

Ou apenas acha que tais “miudezas”

Não tem valor nesta vida

Vê a beleza que tem uma flor

O por do sol e o alvorecer

Ou apenas olha para o mundo

Com o olhar de quem não quer ver

Vê o equilíbrio como fonte

De uma grande e profunda sabedoria

Ou reage a tudo com violência

Desperdiçando sempre energia

O que você vê no escuro

Quando fecha os olhos...

Você já analisou com cuidado

Que o que vê e sente atualmente

Pode ser o retorno ou o reflexo

Daquilo que foi e fez anteriormente

Talvez o que vê tem lógica

Como a lei da ação e reação

Ou pode ser que não tenha sentido

E tudo representa uma mera ilusão

Talvez o que vê no escuro

Seja um rumo pra sua iluminação

Ou pode ser que tudo que escrevi

Representa uma verdadeira enganação

O que você ver no escuro

Quando fecha os olhos??

MANDINHO
Enviado por MANDINHO em 12/06/2007
Código do texto: T523425