Meu quarto
As paredes do meu quarto querem me esmagar, elas espremem tudo vem chegando bem devagar na minha direção e é inútil tentar segura-las, então eu sento bem no meio do quarto acendo um cigarro e espero, tento manter-me tranquilo, mas quando elas se aproximam eu começo a gritar e puxar meus cabelos e de repente tudo volta ao normal. Tudo lá fora está morto e podre, silencioso e com mal cheiro, a casa toda está desarrumada, com teias de aranha, empoeirada e com cadáveres nos outros cômodos, as portas ainda estão trancadas com correntes pelo lado de fora como se alguém quisesse trancar algum mal aqui dentro, porém meu quarto continua limpo, tocando a mesma música repetidas vezes no rádio a cama ainda está arrumada a luz está bem fraca e amarela, mas uma fresta no telhado ajuda a iluminar o quarto. Eu tento gritar, mas não tenho voz, não consigo escutar nada, só alguns barulhos dentro da minha cabeça. O relógio parou de funcionar, os ponteiros indicam oito da manhã. O tempo não passa, o vento não sopra, nenhuma fruta estragada da fruteira tem sabor, não sai água das torneiras, não sinto frio nem calor, não sinto mais o cheiro de nada, não tenho saudade ou sequer lembro se um dia tive um amor, mas eu me sinto bem. Eu não estou vivo.