Sou Vento

Engraçado, sempre me identifiquei e me defini com uma frase de Clarice Lispector que diz: “Posso ser brisa ou tempestade dependendo da forma que me vê passar”.

Muitos que escutam essa minha definição ficam afoitos por desvendar qual é o estado climático do dia.

Acho que desde os primórdios míticos, o mistério seduz o ser humano.

E ao espirito aventureiro, o mistério é na verdade um convite, uma convocação ao exercício de sua arché heroica.

Afinal, tempestade é coisa para corajoso!

Confundidos ficam todos que me tomam apenas como um arquétipo de aventura.

Esses heróis envelhecidos pela mesmice cotidiana, que arrebatados pelo mistério brisa/tempestade se lançam em alguma jornada “épica” de autoconhecimento ou valoração do ego heroico.

Tolos! Desvendar-me não é para corajoso.

Sou material bruto feito para especialistas e não aventureiros.

Sou alma encoberta pelo véu de “maya” e desvelar-me requer dedicação. Uma devoção existente apenas em almas inteiras.

Aquelas que não se prendem na superficialidade do aparente. Brisa/tempestades são estados de algo integro.

Se prestares atenção, brisa e tempestade são qualificações para um único ser. Se ele estivar manso e fresco, é brisa.

Se forte e imprevisível, tempestade. Mas apesar dos adjetivos superficiais, é vento.

A graça de me comparar à frase está no fato de ser vento.

Sou vento.

E às vezes, só de passar, já vale a pena ter nascido, como dizia Pessoa.

28/04/2015