A Porta

I

Fechada: encerra por trás

de si o que não me diz

respeito. Porém, quem sabe

proteja-me do que esconde?

Aberta: expõe o que tenho,

não tenho, almejo e desprezo.

O espaço ausente na casa,

o mundo empilha e satura.

II

Algo sozinho na rua,

de longe percebo.

Um vivente sozinho na rua

e chega mais perto.

Um homem sozinho na rua,

com o peso de existir apenas sobre os pés.

Batem-se as portas!

As casas, tímidas, se recolhem...

Deitado na calçada,

ele vê a noite como uma porta aberta.

Lá, só existe o que é dele:

as estrelas inacessíveis

a lua ebúrnea que vagueia

as nuvens que escamam-se sobre sua face.

Há ainda quem saiba o delírio

de ser gente.

Marcel Sepúlveda
Enviado por Marcel Sepúlveda em 19/04/2015
Reeditado em 31/08/2015
Código do texto: T5212790
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