A Porta
I
Fechada: encerra por trás
de si o que não me diz
respeito. Porém, quem sabe
proteja-me do que esconde?
Aberta: expõe o que tenho,
não tenho, almejo e desprezo.
O espaço ausente na casa,
o mundo empilha e satura.
II
Algo sozinho na rua,
de longe percebo.
Um vivente sozinho na rua
e chega mais perto.
Um homem sozinho na rua,
com o peso de existir apenas sobre os pés.
Batem-se as portas!
As casas, tímidas, se recolhem...
Deitado na calçada,
ele vê a noite como uma porta aberta.
Lá, só existe o que é dele:
as estrelas inacessíveis
a lua ebúrnea que vagueia
as nuvens que escamam-se sobre sua face.
Há ainda quem saiba o delírio
de ser gente.