O Adivinha



De uma janela
Olhava a vida.
Sempre a mesma paisagem,
Mas as nuvens
Mudavam de lugar,
E montes brancos de neblina
Davam, a ela,
Às vezes, um novo tom
De melancolia
(E ninguém sabia).

Calçadas lotadas de estranhos
Que passavam, carregando vidas secretas
Que ninguém poderia adivinhar,
Mas que mesmo assim, fascinavam
O ócio de quem as observava,
Tocando-as com a ponta da caneta.

O mundo inteiro parecia caber
Em sua pequena palma,
E ele o derramava sobre as linhas do destino
E do próprio coração
Escorrendo até os pulsos, 
Onde sangravam inutilmente
Sobre os caminhos desconhecidos.

Fotografias
Ficavam presas às lentes da câmera,
Pois eram apenas frias elegias
Nas mãos do adivinha
Que de nada sabia,
Nada adivinhava,
Nem mesmo a própria loucura,
A única coisa
Que o salvava.

(Saltavam aos olhos do mendigo
Sentado à beira da calçada
Que o via passar, todo dia,
A solidão amargurada
Na caixa fechada
Do falso sorriso).





 
Ana Bailune
Enviado por Ana Bailune em 07/04/2015
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