QUANDO A SENTINELA SE DESCUIDA
Há dias em que só vemos
o portão cadeado a nossa frente,
o gesto que vai além de nosso alcance,
o amanhã que não quer nascer,
a flor que secou antes de desabrochar,
ou o caminho que rejeita nossos pés!
Mas há outros e sempre os haverá,
em que novos ares parecem secar todas as lágrimas,
a sentinela à nossa porta se descuida,
surge uma uma fresta na parede por onde entra a luz!
E uns perfumes novos no ar de primavera se insinuam,
acordam-se as flores que teimam em voltar todos os anos,
vão-se as amarras que se gastam pelo tempo,
dão-se uns olhares que se cruzam por acaso
e uns deslumbramentos com que não mais sonhávamos,
um dia amanhecem conosco e nos convidam a abrir as janelas.