Será que sou ave em seu sonho?
- Até coloquem palavras em minha boca... mas que nasçam poesias.
Tempo malvado, malvisto e infausto.
Muitas águas tumultuosas – marés nervosas – ventos de inverno e inferno astral:
sei de pessoas idosas com extrema dificuldade em andar/nadar.
Vejo algoritmos de vaivéns escritos sem nitidez em pergaminhos;
peço ajuda a estranhos e fico aborrecido por desconstruírem meu ninho.
Desenterrei meu tesouro e veio-me você – assim – num estouro –,
deixando o que pode no poço e empossando-se agradavelmente do espaço.
Hoje sou o mesmo Eu, mas mais suave; sou velho, menino e sou ave.
Voei – vou e fui bem longe: larguei a máscara de mau moço,
pois é mau demais para onde vou – é mau demais para tudo isso (que está por vir).
Jocoso – o sorriso largo do lagarto ao ver nascerem suas pernas na saída do lago.
Viçoso – saber que foi sonho ao ver do lagarto um lacaio atropelado na estrada.
O tempo é intenso, anda com pressa e sente medo e se sente vivo;
faz ideia que loucura é isso?
Ganhei a confiança da mudança, estou voando e procurando nossa janta:
Salmão, garoupa, lagosta?
Tudo tem sua hora e tem o espaço a ser ocupado e tem regaço e tem aurora.
E no sonho temos o céu, não somos cegos e citamos metáforas:
Ajeitei a cozinha, voltei da vinícola, me espere pescar...
você fisgou seu peixe, é de praxe, mas odeia comê-lo cru e sozinha;
bom apetite – vou cozer para nós.
André Anlub
(29/3/15)