INOCÊNCIA

Não sei o que dizer

Nem o que pensar

Porque o silencio fala por mim

Como numa mímica mal resolvida

Ainda sou aquele gurizinho

Que brincava com bonecos de plástico

Inventando um novo alfabeto

Um roteiro louco para as brincadeiras

Coisa de criança sem afeto

Faço misturas de palavras

Como se fossem um ingrediente desconhecido

Faço isso achando que vou mudar tudo

Mas por eu mesmo não me mudo

A maldade do homem

Já não tem endereço

E nem nome

E só acontece pra nos deixar em cativeiro

Não vou reclamar do que passou

E nem do que está para chegar

Afinal, o que passou é passado

E agora não da para chorar pelo leite derramado

Hoje tem um sol bonito lá fora

Eu vou chamar meu amigo

E a gente vai brincar

Até o dia acabar

Jogando bola no barro

Ou correndo como se soubéssemos do futuro que está para chegar

Hoje vai ser um dia para se lembrar

Daqui há vinte anos ainda vou lembrar de hoje

Pena que nem sempre as coisas vão ser assim

Sei que um dia vou perder minha inocência

E conhecer o mundo de forma cru e dolorosa

Uma forma que nenhuma criança devia conhecer

Talvez não exista mais amor

Nesses dias de medo e de terror

Apenas queria que tudo fosse bom

Só uma vez

Por que isso nunca acontece

E ninguém quer mais fazer o bem

E quem o faz é chamado de tolo

Vivo nesse mundo onde me chamam de louco

Mas viver nele é preciso ser assim

Antes ser louco do que ter espírito de porco

Ta bem difícil

Viver assim

Mauricio Rocha
Enviado por Mauricio Rocha em 30/03/2015
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