POEMAS DAS PROFUNDEZAS
LETRAS VERMELHAS
Letras vermelhas contrastando
Com o cinza escuro de meu ser
Letras vermelhas marcam o tempo
Letras vermelhas determinam
Não sei o quê, mas determinam
Pessoas caminham paradas
Elas não sabem seus destinos
Também desconheço o meu
Sou antítese do real
Tão sozinho na multidão
Tão sóbrio num mar de cachaça
Letras vermelhas interrompem
O monólogo interior
Acendem a consciência impura
Travestida de raciocínio
Perdida na estrada dos medos
Querendo ser a heroína
Da novela sem heroína
Daquela vida desprovida
Do sangue das letras vermelhas
Preciso aprender a escrever
A história com letras vermelhas
RECRIANDO
Invento o mundo com meus dedos
Gente doente e gente sã
Crio paixões e seus segredos
Querendo vida, em seu afã
Talvez não sejam personagens
Fantasiosos como tal
Lembranças de velhas imagens
Regurgitação neuronal
Sentimentos quase esquecidos
Afloram no brilho da tela
Relato fatos ocorridos
Criatividade banguela
Não vai sozinha a ficção
A história sempre corre ao lado
Iludido, sigo na ação
De colorir o desbotado
CENTRO DA ESPIRAL
Somos filhos de um mesmo episódio
Sepultando fantasmas medonhos
Inventando demônios e deuses
Ostentando a mais pura burrice
No esboço teórico do mundo
Matamos irmãos, somos heróis
Ferimos vizinhos inocentes
Agredimos o meio ambiente
Cansados da chuva, desmatamos
Secamos as lágrimas da vida
No final, ainda nos achamos
O perfeito centro da espiral
Muito além do supremo ideal