Há muito desejava um carinho assim
Aquela curva solitária,
que respeita as manhãs e
as rotinas,
me espera ansiosa,
pela vida ou pela morte,
gravidade e amanhecer.
Aquela curva
onde nossos olhares se perdem,
onde os pássaros parecem preconizar
algum futuro sem beijos ou cometas,
sinuosidade, jardim de deletérios,
nascemos ali, desajeitados.
A neblina marca as horas,
o relógio canta algo,
uns tremores vêm às mãos e
a vida distorcida sabe que quer voltar
à terra, agarrar-se ao cheiro do pó e mato.
Aquela curva, tão cheia de nós
quer me abraçar mais forte,
quer embalar meus ossos
e dar-me afagos de outra vida...
e eu há muito desejava um carinho assim.