Plenitude
O que fazer para que os anos não passem insípidos?
Para que não transcorram sem significado?
Para que as lembranças não sejam tão maçantes quanto se possa lamentar?
O que fazer para se saber o que fazer?
Serão as realizações sempre insuficientes?
Será o brilho almejado um pequeno reflexo logo após ter sido alcançado?
Por que essa ambição por uma notoriedade se a vaidade é condenável?
Se a individualização é mesquinha?
Se o prazer recluso é egoísta e frustrante?
Se a popularidade passa a ser estorvo com suas exigências inoportunas?
O mero reconhecimento das insatisfações é tão estanque quanto elas
Um alento amargo da consciência do que se é
Talvez esteja aí o ápice do fator humano
A solidão mais compartilhada dos seres com esse tipo de sensibilidade
Porque há sim o consolo da quase certeza de que se poderia sentir diferente
Que se poderia não sentir?
Não ter esse tipo de autoquestionamento?
Não seria uma questão de alienação, mas das escolhas involuntárias que bafejassem os sortudos e pragmáticos adeptos da vida sem muita alma.
Afinal, para que seve isso:
essa existência dramática de perspectivas inatingíveis quando as satisfações precisam menos de memória que de prazer.
Uma dessas perspectivas é certamente a esperança de que algo mude.
Que algum acontecimento dê novo rumo à forma de sentir e se lembrar da vida que se vive ou viveu...
Plenamente.