DO PRINCÍPIO AO FIM

Não sabemos quando estamos prontos a escrever

pois aquele que escreve

é tomado pela força do hábito

que o interage a companhia das letras

e o faz escravo de seu próprio prazer,

jamais pensei ser possível

sentir falta do que desconheço por completo

penso todas as horas

qual será a minha última palavra

a qual me fará ser o que sou

nada mais

nada menos

proferindo a singela síntese

daquilo que venho me tornando

sou possivelmente como todo texto

incompleto, mesmo que acabado

de bem comigo e com todos

me passando por bom moço

agora sim estou começando a compreender

até posso sentir o pavor das palavras

que como nós

sempre temem ao fim,

a incompletude talvez seja obra mais bem feita

estamos sempre tentando preencher vácuo

melhorar, rebuscar, recobrir

tudo aquilo que por nascença é belo e perfumado

de fato pecamos

quando temos as melhores intenções

quando imaginamos que estamos no caminho certo

gosto de minha natureza e pretendo com ela resguardar-me

até o fim

quero ser incompleto

pois as falhas com as quais obrigo-me a conviver

dia a dia

são como ranhuras de um móvel antigo

são as mesmas que afastam a ingênua forma egoísta de pensar

de que sou isso ou aquilo

quando não passo

de mera quinquilharia de sala de estar

àquela que sempre tem a frente

quadro insinuando mar.

Jack Solares
Enviado por Jack Solares em 01/03/2015
Reeditado em 06/11/2015
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