"Diminuta"
"...Penso, logo me indigno!
Ouço me torno mais um surdo.
Vejo e estou cego.
Tento andar mas não tenho pernas.
Me torno mais um na romaria dos absurdos.
Aos pés de imagens pagãs sou mais uma oferenda.
Quero ser a carta que não existe neste baralho e o número preto da roleta.
Mas de tanto rolar não criei limo e nem pontas.
Sou pedra redonda que não fere mas incomoda nos sapatos caros.
Dou sabor a sopa que a mosca pousou.
Sou a magra caloria desta feijoada.
O abridor de enlatados.
Hermeticamente fechados, com sabor e teor muito conhecido, exoticamente servido na folha da bananeira.
Ouro pingado na prata do camelô..."
("Diminuta", by Carlos Ventura)