Estádio de Futebol

Lá, onde todos são iguais

Não há pequenos ou maiorais

Sem plebeus ou fariseus

Não tem eus ou meus

Entre os cantos e o silêncio ensurdecedor

Num instante o olhar rápido assustado

O olhar século fotográfico de torcedor

As bandeiras de vários significados

Na esperança que nascem aos domingos

Com os embates de camisas e chuteiras

Entre as odiosas botinadas do inimigo

Como ordens patrícias de uma semana inteira

O toque humano divino, o drible torto de deus

De quem se liberta de uma marcação diabólica

Os súditos contemplam o Olimpo de Zeus

Com suas verdades simbólicas

A tensão superintensiva dos rostos

A incompreensão da rivalidade, dos opostos

O abraço amigo extensivo do desconhecido

Com um sorriso desarmado, aberto e despido

Dos preconceitos e cada realidade

Não há doutores, não há idades

Vivendo a força da uniformidade

Com as cores da cumplicidade

E na frieza cortante da defesa

Em que olhos são como mãos

Num piscar para certeza

Acentuam as batidas dos corações

Na trégua dos nobres no intervalo

Para os ajustes e o descanso

Que no apito a justa tem seu embalo

De uma batalha sem remanso

Perto dos instantes finais

Da reza as lembranças ancestrais

Uma cabeçada ou um chute imortal

Qualquer coisa perto do igual

Um lado vibra outro morre

Com o gol que muda o escore

Mas a cor como a dor e alegria forte

Somos todos iguais no futebol e na morte

Henrique Rodrigues Soares – Horas de Silêncio.