Jazz
As paredes do quarto parecem me engolir
Da janela consigo ver os subúrbios afora
O quarto é apertado e cada vez sufoca mais
Sentado nessa cadeira, acompanhado de Whisky e a velha máquina de escrever
Bato os dedos contra os botões freneticamente
Desconto a raiva da vida em palavras de bêbado
Na rádio toca um Jazz
O som do sax me mantém acordado
A garrafa está pela metade e ainda são 8 horas
Por vezes me pergunto o que estou fazendo aqui
Por que não estou em casa?
Por que não estou na minha cama?
Por que não estou em minha mulher?
Não há mais lar pra voltar
Ao chegar em casa vi minhas coisas na porta
Fechadura trocada
Deixei as roupas por lá
Entrei no meu carro
Dirigi
Dirigi e ouvi o Jazz
Gritei e ouvi o Jazz
Estou aqui nesse quarto
Ouço o som os carros e as risadas histéricas de bêbados
O cara do quarto ao lado está fodendo uma mulher
Vadia barulhenta, pensei.
Deve estar recebendo pra isso
Volto a me focar no meu rádio e no meu Whisky
Meu cigarro já apagou
A máquina esfriou e meus dedos pararam de praguejar
Mais uma folha pro lixo
Mais lixo pro lixo
O que resta da poesia quando se perde tudo?
Pego minha garrafa
Aumento o som
Deito na cama
A puta continua gritando
Mas só ouço meu Jazz.