Ser Poeta
Muitos dos que encontrei pelos caminhos se diziam poetas.
Falavam e gesticulavam, tal como se fossem,
Declamavam feito poetas
E tantos outros acreditavam que de fato eram.
Seus clamores eram gritos,
Articulados e construídos na garganta seca,
Que imaginavam ser a alma.
Raras vezes sentiam o que diziam,
E mentiam, quando afirmavam sentir.
Atores de frases lidas e decoradas,
Caçadores de significados desconhecidos,
Mestres altamente treinados,
No artefato de enfileirar palavras,
Até que se chegasse ao primeiro livro.
Seres estranhos tais poetas.
Querem o momento de glória, os elogios,
O aplauso alto e repetido,
Que lhes ensurdeça os ouvidos.
Esquiam na vaidade.
E tanto maior o apreço pela sua rima;
Maior a autoestima.
Pobres poetas desprovidos de espírito,
Órfãos de essência e sensibilidade,
Que lhes esvai ao dobrar da próxima esquina.
Seguem adiante seguros da missão cumprida,
Alheios a verdade de que ser poeta não é tarefa,
Desejo, nem meta.
É escolha decidida,
Não nossa;
Da vida.