Decepção
Vejo a decepção fulgindo no olho,
que macula a triste face do velho;
Há diferença entre pipoca e milho,
E só depois que viramos o baralho,
identificamos o naipe desse bagulho...
Tudo tem preço, quase nada tem valor,
A gasta confiança na pedra de amolar;
Pois, quando é mesmo jogo para valer,
Restam uns sapos para a gente engolir,
Simpatia sai, fica cobiça no seu lugar...
O “mise en scène” quebrado pelo fato,
Desmancha hipocrisia num discurso reto;
o ser andrajoso que nos pareceu bonito,
Despe a sua capa e mostra o pano roto,
Para que o ingênuo se faça mais arguto...
Os preceitos enviados na velha epístola,
Revelam-se denúncia do caráter pústula;
Indignação forja um discurso mui ríspido,
Quando o aliado se torna nosso êmulo,
Pois, a mão do tempo rasga sua máscara...
A borracha do dinheiro apaga palavras,
que se escreveu na lousa do interesse;
A luz sai de licença; assumem as trevas,
As garras que eram disfarçadas sob as luvas,
Rasgam nossa carne como se não doesse...
O sim desfila garboso com as vestes do não,
O que fora relicário se pode jogar no lixo;
Midas verte em merda o que põe sua mão,
Se Darwin tivesse, enfim, um pouco de razão,
Presto eu daria meus pêsames aos bichos...