VOOS HUMANOS

Ah, quem me dera me extasiar de vida,

sentir seu néctar me banhando o corpo

e toda a essência gotejada em luas

assim gratuito e sem qualquer medida,

até quietar-me, adormecer saciado.

Após, em doce despertar de anjinhos,

soprar resquícios de preguiça e dengo

às ventanias do celeste abrigo

e abrir-me em voos, encantando pássaros.

Mas o álcool bruto que degluto à força

de tão pesado me amolece os ossos,

me prega as pernas vãs na lama escura

da realidade em desamores, ganas.

Depois me assanha o ressacado olhar

o escancarando ao sol de porre e sangue,

para obrigar-me a ver minazes voos

de abutres homens excretando víboras.

Marco Aurelio Vieira
Enviado por Marco Aurelio Vieira em 20/01/2015
Reeditado em 24/08/2018
Código do texto: T5108250
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