VOOS HUMANOS
Ah, quem me dera me extasiar de vida,
sentir seu néctar me banhando o corpo
e toda a essência gotejada em luas
assim gratuito e sem qualquer medida,
até quietar-me, adormecer saciado.
Após, em doce despertar de anjinhos,
soprar resquícios de preguiça e dengo
às ventanias do celeste abrigo
e abrir-me em voos, encantando pássaros.
Mas o álcool bruto que degluto à força
de tão pesado me amolece os ossos,
me prega as pernas vãs na lama escura
da realidade em desamores, ganas.
Depois me assanha o ressacado olhar
o escancarando ao sol de porre e sangue,
para obrigar-me a ver minazes voos
de abutres homens excretando víboras.