Vês a Vida de um Ponto Fixo
Vês a vida de um ponto fixo.
Como alguém que da praia observa
o caminho de um barco
que segue até se esconder
no horizonte.
Sabes tu que o horizonte está lá,
certo,
concreto,
sólido, ainda que líquido —
certo como a morte é certa;
e sabes também que após o horizonte
não sabes tu de mais nada.
Não tens mais certeza de nada.
Não sabes tu se o barco
afundou no pélago sem fundo.
Não sabes tu se o barco
criou asas e foi navegar nas nuvens.
De nada sabes, não sabes nada.
Digo, pois, agora,
que não mais encares a vida
fixamente,
olhando o barco
e esperando ele desaparecer
no limite da visão.
Mas como o próprio barco que,
em movimento,
ainda vê o horizonte mas,
em movimento,
antes percebe
o que é belo no mar.