Vês a Vida de um Ponto Fixo

Vês a vida de um ponto fixo.

Como alguém que da praia observa

o caminho de um barco

que segue até se esconder

no horizonte.

Sabes tu que o horizonte está lá,

certo,

concreto,

sólido, ainda que líquido —

certo como a morte é certa;

e sabes também que após o horizonte

não sabes tu de mais nada.

Não tens mais certeza de nada.

Não sabes tu se o barco

afundou no pélago sem fundo.

Não sabes tu se o barco

criou asas e foi navegar nas nuvens.

De nada sabes, não sabes nada.

Digo, pois, agora,

que não mais encares a vida

fixamente,

olhando o barco

e esperando ele desaparecer

no limite da visão.

Mas como o próprio barco que,

em movimento,

ainda vê o horizonte mas,

em movimento,

antes percebe

o que é belo no mar.

Marcel Sepúlveda
Enviado por Marcel Sepúlveda em 09/01/2015
Código do texto: T5096321
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