Direito ao delírio
Quando a vida subestima a existência
Vivemos no retrato da ausência
De tudo que poderia ter sido
Mas que aos poucos foi sendo levado
Subordinado, calado...
Fadado a olhar pro passado
Fugindo de amores bandidos
Acumulando na pilha os fracassos
Preenchendo de vazio os frascos
Que jogados contra a parede
Estilhaçam toda a agonia
E até o que não se movia
Ganha vida nessa terapia
Que aos poucos nos mata de sede
Na sede do sucesso, sem erros
Os gritos são de desespero
Dos moldes impostos por todos
E presos a finas coleiras
Esperando pela sexta-feira
Maquiamos nossos rótulos em esteiras
Aprendendo a jogar este jogo
Onde ninguém pode sair vitorioso
Vibra quem se aproxima do repouso
Com sorrisos de final de ano
E presentes que prezam pelo peso
Nos põem como meninos indefesos
É visível, ninguém sai ileso
Tendo sobre os olhos um pano
Que cobre a verdade mais crua
Aquela que aponta pra lua
Que nos dá o direito ao delírio
E entrega a chance de sonhar
Dá palavras aos que querem falar
O que poucos, de fato almejam escutar
Somente os que estão fora dos trilhos