A LOUCA NA PALAVRA - ROBERTA LESSA
A RIMA
Não se sabe bem ao certo o que ocorre,
Se por medo, fé ou sede, a palavra corre
E mui padece da compreensão literária,
Mostrando uma poesia quase libertária
Onde é correto considerar tal desatino
Sem licença, a poesia segue em desafino
À procura do rumo que arrisca na rima
A LIMA
Descabida por não mais poder se deter
Discorre por entre a linha seu padecer
Amaldiçoada é por tanto descabimento
A palavra usa o poético afrontamento
Desobedecendo sua sina e sua condição
Desapercebe-se da rima e ruma em ação
Querendo sim as letra ser sua feroz lima
A PRIMA
Seu som não é mais que uma explanação
Onde ao final tonicamente toca a emoção
Mas algo ocorre nesse momento no fluir
Tecendo letras que fomentam todo o ruir
Daquilo que estrutura toda essa fonética
Naquela rima que cabia e tecia a dialética
Enriqueceu de esmero e gerou sua prima
A ÚLTIMA
Há quem note nessa hora ausência do rimar
Os que nada percebem sentem algo ausentar
Quando muito assusta impedindo o absorver
Da ausência métrica que a fala ousa carecer
Na família da poesia se finda qualquer alegria
Rima pobre prima se esconder na melancolia
Onde de certo encontrará a inspiração última
A ANÔNIMA
Coincidência à parte, sua arte torna-se outra,
Impaciência à luta, outra é a a fé que a nutre,
Incoerência à vida, ousa a fala medrosa e vil,
Carência à mostra, deseja o que não lhe cabe,
Ocorrência à sorte, deleta aquilo que soa vida.
Paciência à morte, torna-se última voz inerte,
Coerência à si, arrisca - se silente ser anônima
A TEIMA
Sem saber poder a palavra cessa e se expurga.
Sem saber querer a metáfora some e se anula.
Sem saber crer a rima desaparece e se dilui.
Sem saber padecer a poesia grita e se esforça.
Sem saber merecer a mente segue e se anula
Sem saber viver a arte anônima e se esmorece
Sem saber conter o poeta sobrevive e se teima
A VÍTIMA
Por isso, parte da escrita padece no desafio do render.
Por isso, parte do caminho desafina no conter do rimar.
Por isso, parte da estrelar carece na miragem do viver.
Por isso, parte do pensar o é por ser breve o seu rumar.
Por isso, parte da fala o é por ser assim o seu querer.
Por isso, parte do afeto o é por ser assim o seu teimar.
Por isso, parte da lida colide com o que nos faz vítima.