Paradoxo Imperfeito
É loucura tentar traduzir-me em prosa ou em verso
Dado a complexidade do que sou face à grandeza do meu universo
Se não sou linguagem, em qual língua me expresso?
Se o silêncio tem mais a dizer o que sou, por que faço o inverso?
Sou indizível, mas às vezes me forçam a dizer quem eu sou
Mas a gagueira pausadamente me impede de recorrer à limitada linguagem desse mundo onde estou
Tento me calar na louca tentativa por deixar que o silêncio meu agitado espírito defina
Contudo, meu silêncio também nada diz sobre a voz que, por não se dizer, em mim quase se definha
Sou essa folha em branco onde um ser sem criatividade diz não haver nada
Mas onde um caminhante faz os traços que hão de definir o rumo da sua nova caminhada
Sou esse céu azul onde o contraste das nuvens brancas esculpem belas esculturas
E pintam quadros abstratos sobre o céu negro das noites obscuras
Sou esse vento que carrega com fúria tudo o que encontra
Mas que na calmaria trás refrigério e orientação ao mesmo ser que em seu furor
Destrói e nenhum receio demonstra
Sou o tudo e o nada
O paradoxo imperfeito
O verso incompleto, mas completamente perfeito
Sou flor, sou espinho
Sou amor e ao mesmo tempo ausência de carinho
Sou esse ser
que mesmo nada dizendo
O tudo tenta dizer
Por isso eternamente hei de ser contradição
Pra quem não sabe ler
O paradoxo imperfeito, linguagem perfeita do meu coração