Louca

Chamaram-me louca... Louca, insana, pobre!

Há nesta pobreza uma riqueza que eles muito desconhecem.

E decerto que tenho sim, em mim, um pouco de masoquismo,

Algo que me valha certa vaidade.

Percebo na pele o cansaço, mas nunca o fastio.

O ritmo se apresenta a passos largos,

E quem acaso prefere tornar-se estático?

Está mais que bem justificado.

Pois quando levo meus pés descalços,

Aos poucos desbravando, tatuando o espaço,

Há pegadas gentis de suor tracejando um caminho no chão,

E entre os saltos e giros e passos

Tenho um vislumbre de silhueta,

Contornada pelo vento

A confrontar o movimento,

Que corre por entre meus dedos,

Que acalenta os fios soltos deste cabelo úmido,

Numa entrega de alma e de sangue,

Faz-se um dueto de forma e de ser,

A respiração destoada, a pulsação elevada,

Sentidos, toque, sensibilidade.

Levo, calada, um grito no peito,

E sutilmente o corpo desenha

Num dinâmico dialeto a palavra

Identidade.

04.12.2014

Dedicado à todos os amantes da Dança!

Kendra Hintze
Enviado por Kendra Hintze em 16/12/2014
Reeditado em 16/12/2014
Código do texto: T5071311
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