Louca
Chamaram-me louca... Louca, insana, pobre!
Há nesta pobreza uma riqueza que eles muito desconhecem.
E decerto que tenho sim, em mim, um pouco de masoquismo,
Algo que me valha certa vaidade.
Percebo na pele o cansaço, mas nunca o fastio.
O ritmo se apresenta a passos largos,
E quem acaso prefere tornar-se estático?
Está mais que bem justificado.
Pois quando levo meus pés descalços,
Aos poucos desbravando, tatuando o espaço,
Há pegadas gentis de suor tracejando um caminho no chão,
E entre os saltos e giros e passos
Tenho um vislumbre de silhueta,
Contornada pelo vento
A confrontar o movimento,
Que corre por entre meus dedos,
Que acalenta os fios soltos deste cabelo úmido,
Numa entrega de alma e de sangue,
Faz-se um dueto de forma e de ser,
A respiração destoada, a pulsação elevada,
Sentidos, toque, sensibilidade.
Levo, calada, um grito no peito,
E sutilmente o corpo desenha
Num dinâmico dialeto a palavra
Identidade.
04.12.2014
Dedicado à todos os amantes da Dança!