HIPOCRISIA

Não sou palmatória do mundo.

Reconheço minha incapacidade

De entender o que , no fundo,

Seja o amor de verdade.

Não sei dizer palavras de amor

A quem não as merece de fato,

Nem elogiar a quem me causa dor,

Sendo rotina me fazer desacato.

Sou contra fingir que tá tudo bem,

Posso estar errada, reconheço,

Mas não sei falar bem de alguém

Se a face pior eu bem conheço.

Não entendo certo tipo de amor:

Só um se dá sem nada receber,

Só falsidade em buquê de flor,

Para mim é amor próprio não ter .

Dá-me um certo desconforto

Ver proclamação de alguém, valor.

Como num palco, é falso, é torto

Homenagear alguém cheio de bolor.

Dizer que se sente abençoado

Por alguém que não se admira,

Ao contrário, se sente magoado,

Esse amor soa como mentira.

Dizer que tem orgulho e se espelha

Num ser que não tem valor a ensinar

É como mentir e nem ficar vermelha,

É o sol com a peneira tentar tapar.

O face parece um picadeiro,

Bebem sem cara feia, o fel

Do enredo, mesmo tão grosseiro

Cada um representa seu papel.

Recuso-me a ficar calada, nada dizer,

Vendo um lobo aclamado cordeiro

Como se palavras pudessem esconder,

Dissimulando seu mal costumeiro.

Os que postam e os que comentam

Fingem que tudo é lindo e perfeito.

" Acreditam" e até compartilham

como qualidades, os defeitos.

Como os versos que comecei,

Não sou eu a dona da verdade

Mas recuso, sempre direi,

Aceitar de alguns tanta falsidade.