Poesia: garimpo e lapidação
Poesia, garimpo de idéias.
O deparar-se de repente com o veio, com o afloramento,
Quase sem saber nem como, nem donde, nem porque.
O ser avassalado pelo júbilo da gema,
Na solidão da vereda solitária, inóspito sertão.
O inesperado encontro, o encontro com o inesperado, o render-se à inspiração.
Poesia, garimpo de imagens e palavras,
Pepita, súbita luz no fundo da bateia.
Diamante, brilho no meio do cascalho.
A repentina ordem, a súbita forma clara, no selvagem e desordenado turbilhão de sentimentos.
A sorte, o acaso, o mistério,
Da natureza e seus caminhos intrincados.
Mas poesia também é ciência, lapidação.
É o trabalho paciente, horas, dias e semanas,
Lendo e relendo, virando e revirando a palavra,
Na busca da mais precisa expressão.
É o paciente tornear da pedra na caneta das idéias, é refinar, polir, retrabalhar,
É revelar o brilho escondido do pensamento na brunidura das facetas dos versos e estrofes.
Poesia também é julgamento, é balanço de efeitos,
É autor à busca de leitor, é a procura no outro, de outra perspectiva,
É busca de distância, de distanciamento.
É observar atentamente o luzir, o faiscar, a luminescência,
Variando ângulo e luz,
Na finita, infinita, forma dos arranjos das palavras.
Se poesia é luz, também é música,
Se é relâmpago, também é trovão,
Se é sol, é sinfonia.
Composição de cores, trova de relampejos.
É ritmo, rima e cadência,.
É escuta no silêncio dos sons.
Garimpo de idéias,
Brilho das imagens e palavras,
Polir e lapidar,
Balanço de efeitos,
Consonância e dissonância,
Fazem da pedra bruta, beleza e revelação.
Claudio Thomás Bornstein