O dia; o teatro
Amanheceu com som do regador celeste,
desajustados da vida se ajustaram à rua;
vestidos de nossas escolhas, o dia reveste,
lega após chuva as carícias do vento leste,
mas, ainda me priva da linda presença tua...
Nem sempre o vento separa palha do trigo,
tem hora que bagunça sujando inda mais;
o amor e a solidão ainda seguem comigo,
separaria de bom grado, mas, não consigo,
daí, seguem contíguos qual o mar e o cais...
Sei que para isso devo padejar numa eira,
lançar porções calculadas, o vento separa;
mas, o trigo arbitrário é preciso que queira,
senão essa solitude seguirá intacta, inteira,
servindo em escuras taças a bebida amara...
O dia é inocente, e sob suas asas ainda cabe,
exatamente o mesmo que no ontem coube;
aos anseios ignora, ou, finge que não sabe,
viu na queda de Jericó a prudência de Raabe,
mas, se perguntarmos dirá, que não soube...
É que foi criado discreto e, assim, não opina,
mesmo que erremos feio qual, barata tonta;
as escolhas são nossas, minha e tua, menina,
tudo que o dia faz é apenas abrir as cortinas,
mas, o enredo, o teatro, fica por nossa conta...