A humildade dos ignorantes

Não sei o quanto me acostumei com a vida

Com as lutas de sobrevivência

Devo ter sido condicionado a elas

Há muito custo emocional e físico

Sei que isso todos ou, quase todos passam

Muitos de forma extremamente mais sofrida

Com que propósito

Por que com essa lei selvagem

De cadeia alimentar

De exploração dos semelhantes

De disputas e contendas cruéis

Com essa fórmula de dores sempre maiores que os gozos

Sei que preciso ter a humildade dos ignorantes

Que mesmo assim, como acreditam muitos,

Ela é uma dádiva

O fato é que não há escolhas

São obscuras as alternativas dos místicos

Como são improváveis os sucessos definitivos dos céticos

São obras casadas

Até a bela poesia requer talento

Até as contestações pressuporia cultura

Para não se cair no vazio da mediocridade

Para não se perder num imaginário raso

Expondo o próprio lamento aos crivos dos verdadeiros pensadores

Não há esperança para a desesperança

Não existe possibilidade de outra forma de ser

Enquanto isso, apreciamos ou integramos as batalhas

Comandamos as predações ou somos devorados nessa guerra

Em maldades institucionalizadas

Legitimadas por conceitos inaceitáveis à luz de nossas limitações