OLHAR DE JARDINEIRO

Eu entre tantos caminheiros,
Torcendo por um país decente,
Tecendo sonhos altaneiros,
Vivendo uma realidade cadente.

Eu entre tantos guerreiros,
Movidos por uma otimista essência,
Outro verão, outro janeiro,
Quem sabe, emoldurados pela decência.

Eu entre tantos romeiros,
Dobrando esquinas da estafante procissão,
E lá se vão velas, candeeiros,
Lá se vai mais uma canção.

Eus entre tantos entreveros,
Filosofando, fragmentando o ser,
Um jogo de tabuleiro,
Sem saber quem vai vencer.

Eu entre tantos aventureiros,
De vento em vento, à mercê,
Um voo torto para o pouso derradeiro,
Um livro que ninguém lê.

Eu entre tantos hospitaleiros,
Crendo na vida, apesar das incertezas,
Abrindo a alma para o amor verdadeiro,
Sorvendo os momentos de delicadeza.

Eu com um olhar de jardineiro,
Revirando o baú de lembranças,
Encontrando o eu menino, alvissareiro,
Fazendo com as flores uma aliança.