Outono 48
... Hoje eu amanheci quarenta e oito e nascente sol.
Olhei para trás por instantes, mas não me demorei.
Parei apenas por um tempo de eternidade
Nas risadinhas dos meus filhinhos.
Isso sim... Foi ontem.
Dei uma rápida olhada nas pedras as quais pisei...
Enxerguei, então, que eram pontes... e não eram pedras.
E dei demorei-me a observar as pedras que eu atirei... E chorei.
… Algumas não atiraria novamente.
Chorei ainda saudades...
Do tempo em que eu tinha os meus pais.
Mas acontece que hoje... Eu resolvi estar sol.
Lembrar que eu gosto de mim apenas hoje.
… Às vezes não gosto. Mas aceito-me, então.
Uso hidratantes na cara e gosto de “brigar” com o tempo.
Mas agradeço-o em mim... Grande escultor de mim.
Não gosto mais de perfumes fortes e gosto das blusas brancas.
Ainda reluto para vestir um vestido… Fui sempre assim.
Havemos de ter certos cuidados e eu sou descuidada demais de mim.
Uso lavandinhas e sou quase uma “criança”...
Isso foi ontem também.
Sou tão corajosa pra vida que chego a me assustar.
… Mas choro e sinto medo por coisas tão comumente tolas…
Gosto cada vez mais da simplicidade.
Mas não vivo a “passar” os dias...
Eu faço acontecer os meus dias.
E tenho que ser deveras criativa por aqui.
Contorço... Mas não curvo-me à nada.
Nem à ninguém. Só a Deus.
… Mas é só porque eu gosto de "olhares horizonte".
Todo horizonte acalma-me. Estou viva... e vivo viva!
Com o tempo… passei a ser dos extremos: gosto muito ou não gosto.
E quando não gosto prefiro hoje esquecer.
… O estado “morno” me faz vomitar.
E eu bebo pouca água… isso me preocupa.
Sou trabalhadora e tenho hábitos noturnos.
Isso lembra-me um primo, que uma vez disse-me que eu deveria Ganhar dinheiro à noite - "camareira de hotel" - e eu ri muito!...
Faz Tempo. Não descartei a idéia.
Gosto muito de ler madrugada a dentro...
E ainda arrisco-me a escrever.
Exponho-me ao ridículo... Eu bem sei.
Mas rio-me de mim...
Gosto das gargalhadas de mim mesma.
São as que eu mais me divirto.
Não assisto à filmes de comédia... Não gosto.
Gosto muito dos filmes franceses...
São sempre muito profundos.
Na verdade sou um cinéfilo incurável.
E dos desenhos animados…
Todos pegam-me sempre pela mão!
Não consigo escapar de quase nenhum deles!
Sou eclética no quesito música... depende de como eu acordo.
Música, para mim… é coisa da alma que ri ou que chora no momento.
… Gosto mesmo do silêncio...
Mas ainda ando a aprender muito sobre ele.
Gosto de sinos de igreja que soam aos domingos...
E de um que soa aqui pertinho...
Este fala-me sempre sobre as horas.
Não tenho religião e tento seguir a Jesus Cristo… é difícil.
Deus… É o meu Pai único. Só Ele tem as minhas rédeas.
Às vezes Ele as puxa… E eu seguro nas barbas Dele.
Peço-Lhe colo… E logo vem.
Mas os sinos das igrejas trazem lembranças da minha doce mãe...
Ela… A minha ave maria de todos os dias.
E gosto muito de ser avó!
Puxa! ... Ter um netinho lembrou-me de como é bom nascer!
E o sorriso dele?! … Ah! É raio de sol de mim!
E eu… Que por vezes cheguei a pensar que eu não queria ter nascido.
… Isso também foi ontem.
Gestar eu sempre gostei... ser mãe mesmo!
E eu poderia ter tido mais filhos... mas então é uma outra história.
Ser mãe é o único feito que eu realmente amo.
E chove por aqui agora e o cheiro da chuva molha o meu rosto.
O barulho da chuva na calha leva-me ao útero de minha mãe.
E ousar escrever…
Leva-me ao rápido e sem muito tempo colo de meu pai.
Acontece que hoje eu acordei sol.
E agradeci a Deus, ao sol, à linda amiga lua...
Ao vento que sopra os meus cabelos e afasta os maus pensamentos.
O vento sempre ajustou as minhas ideias…
E balançou-me ainda nas árvores quando eu era menina.
E agradeci daqui aos meus filhos... Eles ajudam-me a crescer.
Agradeci ainda a cada um que passa por mim…
E ainda aos que ficam em mim.
E eu gosto muito dos cãezinhos e todos os bichos...
São grandes amigos!
Aliás... Eu trocaria algumas pessoas por apenas um único cãozinho.
Peço desculpas apenas à Sra. barata.
Onde ela está eu não consigo nem respirar!
Gosto muito de circo e de teatro!
É onde eu sinto que a vida é mais verdadeira!
Acontece que hoje eu acordei sol… E eu já estou “me pondo”.
Sim… Porque eu teria que viver aos fins dos noventa e seis anos!
Nem sei se suportaria tanta vida…
Porque eu vivo e não sou nada, nada fácil.
Eu venho a amanhecer “entardecendo” de uns tempos pra cá.
Ando a aprender a tudo agradecer.
Porque a vida... É a mais bela arte em que se pode tocar!
E eu deixo a vida pulsar dentro de mim e exalo-a.
Viver… Plena de ser… É a arte mais cara e a mais preciosa.
Karla Mello
14 de Novembro de 2014