Alguma pureza para renascer

Como saber do mundo se nem sei de mim?

Como saber... Pra poder escrever?

De como se formam as ideias que têm os homens

De como nasce a força das mulheres

Sou um nada diante de tantos

Aparentemente muito mais simplórios do que eu

Surpreendo-me com eles

Do alto de uma prepotência que resolvi erigir sobre conceitos que eu mesmo criei

No mínimo que aprendi com outros dessa minha estirpe

...E desato a expor opiniões e aberrações literárias que fariam tremer o mais inesperado e simplório dos meus alvos.

Vítima inocente, mas irreverente ao meu descalabro.

Pedante!

Sinto-me assim muitas das vezes que me leio

Nessa preocupação egoísta com um existencial inútil e depressivo

Não se precisa de harmonias estéticas para sentir

Porque é o sentimento e não a estética que importa

É o ímpeto voluntarioso da riqueza interior que deveria prevalecer

Apesar de notar isso quando desfruto imerecidamente de alguma atenção

Nas vezes em que deixo distraído sair o que realmente me acomete

Continuo excretando superficialidades toscas e enganadoras

Como me atreveria a julgar outros

Supostamente menos ou mais sintéticos do que eu?

Atribuir valores que em certa monta são rebardas das culturas esmeradamente preconceituosas

A busca pela essência é quem poderia me salvar

Porém não sei o quanto conseguirei ser cru e sensível

Inspirado e inspirador

Contundente nas verdades e suave na forma

Interessante nos temas

E encontrar beleza para meus poemas?

Sei que vou continuar assim

Como um pecador irrecuperável

Condenado pela consciência do que é

E sem forças e meios para encontrar

Alguma pureza para renascer