DEZ CISÕES
DEZ CISÕES
Decidi a solidão à escuridão
Decidi a palidez à robustez
Decidi a palavra à alegria à melancolia
Decidi a emoção à corrupção
Decidi a loucura à agruria
Decidi a poesia à maestria
Decidi a caminhada à estrada
DEZ MISSÕES
Demito -me da fala se nela jamais conter gala
Demito -me da lida se nela jamais conter vida
Demito -me da vida se nela jamais conter dúvida.
Demito -me da parte se nela jamais conter arte
Demito -me da fúria se nela jamais conter alforria
Demito -me da parte se nela jamais conter arte
Demito -me da sorte se nela jamais conter norte
DEZ EM CADEIA
Palavras mal ditas desencadeiam reações súbitas
Palavras caladas desencadeiam ações alienadas
Palavras ocultas contidas desencadeiam falas incultas
Palavras imorais desencadeiam violências mortais
Palavras quebradas desencadeiam mentiras exageradas
Palavras perigosas desencadeiam missões escabrosas
Palavras carentes desencadeiam emoções ardentes
DEZ AFINADOS
De brincadeira burlei palavras e teci acordes desafinados
De desobediência cantei palavras e sofri acúmulos desencontrados
De soslaios espiei palavras e floresci sentidos enternecidos
De fome comi palavras e degustei prazeres obstinados
De desejos amaciei palavras e encontrei amores fascinados
De leve soprei palavras e viajei por céus iluminados
De malandragem roubei palavras e vi poetas desatinados
DEZ MEMORIAL
Balancei no ritmo das marés e nada soube senão a sede do anoitecer
Importei sonho de sonhadores e nada soube senão a volúpia do evanescer
Desatinei verbos nas formas e nada soube senão a palavra emudecer
Andei desequilibrando emoções e nada soube senão a falta do amadurecer
Busquei sentidos na vida e nada soube senão a ausência do enrijecer
Implorei abertura de corações e nada soube senão a carência do ser
Alertei ser eu obstinada e nada soube senão a vontade de escrever
DEZ OBSTRUÇÃO
Houveram tempo que o tempo era forjado nas malhas do viver
Houveram vidas que a vida era curtida nas teias do agir
Houveram ações que a ação era mantida no seio do ato
Houveram atuações que o ato era talhado na luxúria do poder
Houveram poderes em que o poder era curtido no fato do cegar
Houveram cegueiras em que o cego era nutrido no cessar do ouvir
Houveram ouvir em que o ouvido era tolhido no passar do tempo.
DEZ ACATOS
No cantar das manhãs ocorre o encontro dos olhares que despertam.
No versar das primaveras ocorre o espanto dos anos que despontam
No falar das emoções ocorre o momento dos silêncios que apertam
No olhar das criações ocorre o firmamento dos horizontes que circundam
No andar das carruagens ocorre o discernimento dos ventos que redundam
No pegar das horas ocorre o fomento dos instantes que reverberam
No andar das trevas ocorre o sacramento dos andantes que dilaceram