Fogo de palha

Contudo, a minha flor brilha,

Pelo mero fato de estar viva;

Deixa depressão a uma milha,

contra o desânimo incentiva;

tenta nos pilhar com sua pilha,

ao menos, uma poesia motiva;

se mau grado nos põe encilha,

a esperança dela se esquiva;

pois, a tal, do otimismo é filha,

sempre veste o seu verde oliva;

e quando conosco essa, trilha,

faz ignorar o que a vida priva;

e olhar mais além da coxilha,

relendo a uma antiga missiva;

onde coabitavam água e bilha,

e a sede sempre saía furtiva;

aves formam sua esquadrilha,

estação certa a que se conviva

diz: o devir que o fado dedilha,

já vem, trazendo sua bela diva...

às vezes acreditar é uma falha,

e a falhar essa ilusão nos leva;

o tempo perdido que se malha,

fingimos luz, mesmo sendo treva;

se um ou outro auspício calha,

toda a desdita unida se subleva;

afirma que é só fogo de palha,

que não adianta esperar por Eva...

aí, o brio adormecido se levanta,

dizendo: daí se ao fogo falta brasa?

Sequer eu espero porque adianta,

Apenas, porque desesperar atrasa...