Possibilidades
São cinco. Todas abertas para um céu.
Dependendo da hora, céu claro.
E dependendo da noite, céu lunar.
Todas elas floridas.
Agora, devido ao mês, flores de maio.
Aquela mistura de cores vermelhas e rosas.
Sem perfume algum porque o vento transporta
além, muito além do que imagino.
Depositei numa delas um pouco de fertilizante
Tem um cheiro estranho mas de efeito rápido.
Nasceram pragas. Tantas, que se entrelaçaram
formando um véu intransponível. Perdi a visão
das cachoeiras. Era a minha janela preferida.
Imensa, segura, quase uma tela pintada à mão.
Não precisava de lentes para enxergar as cores,
que a vegetação vista por esta janela, me ofertava.
Possuía um quê de aventura. Um quê de cumplicidade.
Restaram-me quatro janelas. Enfeitadas de flores que
não precisam de fertilizantes. São flores rastejantes, sem
outros propósitos que os de compor ou ornamentar.
Fazem-me feliz só de sabe-las. Nunca me fizeram chorar demais
ou rir de menos... Não. Além delas tudo é estável, estático, inodoro.
Não me provocam medo, nem me tiram a paz. Aliás, fornecem-me
segurança porque me protegem das tempestades atemporais...
Aquelas tempestades que vêm sem previsão e se desprevenidos,
nos levam tudo, até os pequenos sonhos...
Algumas possibilidades elas me ofertam:
- um solo de violino
- um bater de asas de pássaros
- uma semente brotando no solo
- o som de passos vindo
- o romper da aurora.
Virtuosas possibilidades.
E assim, totalmente abertas,
permito que a brisa escolha,
entre uma e outra, a forma
de não orvalhar na janela
que me permitia ver o pitoresco.
Preciso do fascinante intacto
para voltar a sonhar...