CAVALGADA
Comprei arreios de prata
pra o meu desejo encilhar.
E lá me fui, sonho a fora,
em busca de uma querência
onde sempre quis morar.
Montei no Tempo tordilho
tirando lascas de rimas
dos versos que repontei,
em busca de uma querência
que onde fica eu nem sei.
Nas quatro patas do vento
tropei noites e dias
por longa estrada batida,
em busca de uma querência
nos verdes campos da vida.
Perdido entre sóis e mundos,
dormi no colo da noite
atando a lua ao sovéu,
em busca de uma querência
entre as canhadas do céu.
Deixei meu berço de auroras
por terras onde o sol morre
sem o pranto do luar,
em busca de uma querência
que nunca pude encontrar.
Tendo as ondas por lombinho,
por sete mares andei
vivendo de azul e de espuma,
em busca de uma querência
sem jamais achar alguma.
Grimpei morros, subi serras
em perdidos horizontes
tendo o sol sempre adiante,
em busca de uma querência
cada vez bem mais distante.
Nadei rios e primaveras
até que o tempo pintasse
meus cabelos de geada,
em busca de uma querência
que me era sempre negada.
Encontrei a morte andeja
em mundéu de noite escura.
Como eu, também andava
em busca de uma querência
que não fosse a sepultura.
Afinal, perto da morte
- tantos anos já vivi -
entre os vãos da minha porteira
achei a amada querência
no lugar onde nasci.