AVISO AOS NÁUFRAGOS

Esta página, por exemplo,

não nasceu para ser lida.

Nasceu para ser pálida,

um mero plágio da Ilíada,

alguma coisa que cala,

folha que volta pro galho,

muito depois de caída.

Nasceu para ser praia,

quem sabe Andrômeda, Antártida

Himalaia, sílaba sentida,

nasceu para ser última

a que não nasceu ainda.

Palavras trazidas de longe

pelas águas do Nilo,

um dia, esta pagina, papiro,

vai ter que ser traduzida,

para o símbolo, para o sânscrito,

para todos os dialetos da Índia,

vai ter que dizer bom-dia

ao que só se diz ao pé do ouvido,

vai ter que ser a brusca pedra

onde alguém deixou cair o vidro.

Não e assim que é a vida?

Leminski
Enviado por Tomb em 26/08/2014
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