SOU COMO UM RIO
Sou como um rio
Reajo ao desdobrar das estações
Sou ventre, sou alimento
Sou minha própria esperança,
Uma plataforma aberta
Que nasce pura e limpa depois se contagia
Na minha trajetória inescapável
Porque sou reflexo de tudo que me cerca
Assim minha alma espelha as impudências do mundo
Muitas das minhas impurezas, porém, as adquiro,
Quando caminho fora das minhas margens
Depura-me e me engrandece, as tempestades
No tempo árido, me dispo
Me recolho,
Agonizo
Mas não deixo
De seguir meu destino
Eu umidifico, irrigo, fertilizo
Sei que não fui feito para compreender o mundo
Mas apenas compartilhá-lo
Ajudo a carregar a vida
Nada disso, porém me faz melhor
Porque é o que se espera de um rio
Ao correr de peito aberto no mundo
Atinge-me grandes contaminações do planeta
Enfeio-me e às vezes pareço sucumbir
A frente, entretanto, em algum ponto, restauro-me
Minha força vem da minha missão que é meu caminhar
Só existo, porque caminho, este é meu lema
Sou parte de tudo que me cerca
Os húmus, que transporto
Em minhas veias
São de todos
Vieram do solo
Das árvores passadas
Dos sedimentos das matas, do solo
E não das águas
Do qual sou feito
Sou apenas um agente natural
Termino no mar
Imenso e inexplicável
Todos os dias
Sem que este se altere
Parte do imperioso equilíbrio
Que rege as existências
No entanto continuo vivo
Quando morro mudo de estado
Orbito próximo as estrelas
E renasço pelas forças que regem a natureza
Na metamorfose perene
Do eterno recomeçar
Que atinge os seres
Minha alma assim é infindável
Porque é habitual, humana e reciclável
Sim eu sou como um rio,
Ora sou raso, ora sou fundo
Ora agitado,
Ora sombrio.