O puro Rock 'n Roll das moscas
Tive que cortar o cabelo e fazer a barba
A entrevista era às três
e eis que:
15 cadeiras,
10 candidatos,
de histórias tristes, contaminadas por
enfermidades e trivialidades,
e também um pouco para não desmerecer,
as poucas glórias e felicidades
O drama humano
Letargia à beça
Apenas uma vaga de emprego
o inquisidor senta-se no meio,
Uma vertigem,
visões me cobrem,
É tênue a linha que nos separa da completa demência
enquanto as mocas varejeiras,
antes na merda, agora na banana do cesto,
descobrem-se, inimigas
Do meu lado esquerdo, quem sabe o futuro presidente?
Do meu direito, um indivíduo amado
ou armado?
Estamos ali apenas para alimentar a ganância
e os bolsos de outro,
No coliseu com luz fluorescente,
deixado às armas brancas,
sob olhar oblíquo do imperador
o animal é testado, analisado, contestado
descobre-se o pulso para se medir a dor
O desespero torna o ar pesado
e nesta sala, olho ao redor,
e os vejo:
sem amparo
interrompidos,
despeitados,
e todos,
sem exceção, anuviados
Uma mosca passa zumbindo e nós a seguimos
Um simples punho pode terminar com sua jornada
Mas, aqui e agora, me pergunto, quem realmente está
por cima da carne?
Qual espécie está viva?
A mosca vague-a displicente,
é claro, se soubesse o que significasse "displicência"
Ou todos os séculos, as artes, a literatura
a revolução russa e/ou francesa, a guerra de classes,
a inflação, a ditadura militar, Dom Pedro II,
produto interno bruto, pós-modernismo, socialismo, carteira de trabalho,
família e pátria, deus, ordem e progresso e etc...
Seguro o ímpeto de esmagá-la na palma de minhas mãos
Porque, oras, estamos apenas apunhalados,
consumados,
portanto,
só poderíamos invejar a vivacidade
de suas asas,
antenas,
patas
e o zumbido que é mais animoso do que nossas
vozes
enquanto dizemos os nomes de batismo e fôssemos
o porquê,
de sermos ou não,
contratados
Do seu túmulo, Kafka ri
Moscas, são mais sinceras que o mais
sincero dos homens,
degustam merda e não escondem isso
Eu decido, de agora em diante,
não matar mais moscas.