Perda

Você não podia, ao menos, ter ficado feia?

Assim meu dissabor seria um capricho;

Inadequado e intrigante, mas um capricho.

Tortuoso e paradoxal; mas um capricho!

Você não podia, ao menos, ter ficado chata?

Assim meus pensamentos seriam loucura;

Uma saudade caprichosa de ilusões, uma loucura.

Um infortúnio de emoções; mas uma loucura!

Você não podia, ao menos, ter sumido?

Assim meus versos seriam métricos; um paradigma;

Meus pensamentos teriam rima, um paradigma.

Eu buscaria o inexistente. Ainda assim, um paradigma!

Você não poderia, ao menos, estar aqui?

Assim tudo o que já pensei perderia sentido;

Todas as buscas desenfreadas perderiam sentido.

A vida anoitecendo, enfim, ganharia sentido!

Não, não é?

Do futuro você tinha que me provocar.

Tinha que aparecer quando já amanhecia.

Tinha que sorrir quando minha memória cegava.

Tinha que abrir seus braços enquanto eu adormecia.

Que insensibilidade cruel.

Você não ficou feia, não ficou chata, não sumiu e não está aqui.

Torturando-me ao longe, com o sorriso malicioso.

Você não podia, ao menos, ter ficado?