NEVOEIRO

No meio do nevoeiro percebi como sou limitado.

Visão comprometida, chuva fina, asfalto molhado.

Escuridão intensa, faróis fracos, neblina forte.

No meio do nevoeiro me senti pequeno, impotente.

Medo do desconhecido, do que vinha pela frente.

Velocidade baixa, querendo chegar logo, com sorte.

No meio do nevoeiro também senti meus sentidos.

Todos alertas e um substituindo a deficiência do outro.

Fiquei feliz, porque a audição correu em socorro da visão.

No meio do nevoeiro fui ficando mais calmo

O tato, coitado, preocupado em sentir tudo mesmo.

O olfato, como se pudesse, queria cheirar o infinito.

No meio do nevoeiro percebi os sentidos juntos.

Um se preocupando em corrigir a limitação do outro.

Um tentando superar a deficiência alheia.

No meio do nevoeiro percebi que, assim, deveria ser a vida.

Imaginei-me ajudando alguém a suprir suas necessidades.

No meio do nevoeiro senti o rosto queimar, intensamente.

Percebi como tenho sido egoísta, ultimamente.