No deserto
A sina de acordar a espera do inesperado,
entrincheirada nessa ambiguidade da vida;
Sonhar com açúcar a dar sal para o gado,
Dependendo um tanto de si, outro do fado,
E supor como reta uma senda que é torcida...
É ouvir trinarem canários com alma soturna,
ainda cheirar flores no jardim da esperança;
mas, como gratuitos que nos chamam à urna,
Com sua sorridente cantilena gasta, diuturna,
tanta mesmice chega uma hora que cansa...
Nosso sonho de ordenar a vida com um índice,
Falha, e onde anotamos, vale; surge o monte;
De inesperada marcha somos feitos partícipes,
o mágico do deserto, disse o pequeno príncipe,
é que em algum lugar, ele esconde uma fonte...
por agora, o que resta é ir bebendo dos cactos,
enganando a dura sede para ele não me matar;
fazendo em parcos versos uns cifrados relatos,
desse suportar internas pelejas de cães e gatos,
na incansável busca do sonhado, “algum lugar”...