"PENSAR É ESSENCIALMENTE ERRAR"


Qual metafísica
– cosida de nossos centros numes –
poderia vir a esclarecer
o senciente “ser”,

ou que idealização qualquer
– germinada em nossas vis e vãs existências –
poderia haver, que não as fabricadas
por nossas ébrias e ególatras
aspersões?

Desde o nascimento,
em meio às coisas das casualidades,
estamos condenados em nossas
próprias imensidades
apócrifas,

das quais a tudo transmutamos
em novas gêneses, através dos pensamentos,
das imagens e das palavras que lançamos
à abstração universal.

Mas não nos tornamos senhores
apenas de conjecturas possíveis, como também
inventamos simetrias e dissimetrias
a se fragmentarem

pelos relicários
do inexorável tempo, que dividimos
entre pretéritos irrecuperáveis, estares engessados
e porvires utopizados.

E, se nossa sagrada liberdade
para construir e para deformar o que
nos rodeia por todos
os espectros

se sempiterniza em nós,
a condenação máxima é sermos livres
para isso, num entenebrecido
paradoxo.

Eu também,
alquimista a cozer vazios,
posso explicar, mover ou crer
qualquer coisa;

não obstante
uma vez rascunhada a obra,
prisionei-a aos limites
de meu ego.

“Pensar é essencialmente errar”,
dizia Alberto Caeiro; e eu sou como tu,
e lanço-me perdido como tu,
nobre poeta;

e, angustiadamente ,
ouso dizer: “Nada mais há que não seja
para nos servir, aos senhores
da abnormidade.”

Péricles Alves de Oliveira
Péricles Alves de Oliveira (Thor Menkent)
Enviado por Péricles Alves de Oliveira (Thor Menkent) em 11/08/2014
Reeditado em 27/03/2015
Código do texto: T4918727
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