"PENSAR É ESSENCIALMENTE ERRAR"
Qual metafísica
– cosida de nossos centros numes –
poderia vir a esclarecer
o senciente “ser”,
ou que idealização qualquer
– germinada em nossas vis e vãs existências –
poderia haver, que não as fabricadas
por nossas ébrias e ególatras
aspersões?
Desde o nascimento,
em meio às coisas das casualidades,
estamos condenados em nossas
próprias imensidades
apócrifas,
das quais a tudo transmutamos
em novas gêneses, através dos pensamentos,
das imagens e das palavras que lançamos
à abstração universal.
Mas não nos tornamos senhores
apenas de conjecturas possíveis, como também
inventamos simetrias e dissimetrias
a se fragmentarem
pelos relicários
do inexorável tempo, que dividimos
entre pretéritos irrecuperáveis, estares engessados
e porvires utopizados.
E, se nossa sagrada liberdade
para construir e para deformar o que
nos rodeia por todos
os espectros
se sempiterniza em nós,
a condenação máxima é sermos livres
para isso, num entenebrecido
paradoxo.
Eu também,
alquimista a cozer vazios,
posso explicar, mover ou crer
qualquer coisa;
não obstante
uma vez rascunhada a obra,
prisionei-a aos limites
de meu ego.
“Pensar é essencialmente errar”,
dizia Alberto Caeiro; e eu sou como tu,
e lanço-me perdido como tu,
nobre poeta;
e, angustiadamente ,
ouso dizer: “Nada mais há que não seja
para nos servir, aos senhores
da abnormidade.”
Péricles Alves de Oliveira