Biografia de velha
Biografia de velha é da sutileza das coisas pequenas.
Borboletas e colibris...
Certamente, das plantinhas.
Biografia de velha é biografia de passarinho.
Biografia de corpo tecedor de ternuras do tempo,
Peraltices como se fora menina,
Que viera com ela morar, inteira toda inteira...
Inteirinha.
Biografia de velha não por de se tão velha for,
Corpo não por se tão velho for,
Apenas sente uma dorzinha miúda, miudinha aqui e acolá.
Diante de tanta vida, uma dorzinha de “nadicadenada.”
Que, quando se todo corpo a velha estica é um corpo tão gostoso,
Um belo espreguiçador! Que a velha sente-se como se moça fosse.
Biografia de velha, biografia de corpo gostoso,
Que se olhado por um moço, o gosto do corpo
Vai ainda mais fundo e a velha sente-se
Ainda como se fosse menina.
(Pensando no Manoel de Barros)