Tédio
É entediante entediar. Explique... O que se vê ao nada, nada se verá. Por isso é entediante entediar.
O nada não é preenchido, sempre e nunca está vazio. Por que está cheio? Cheio de nada. Por que está vazio? Porque não há nada.
O tédio é dimensional. Toma de aferição àquilo que lhe aparece como padrão: seu quarto, sua sala, sua vida, sua alma... Pobre do entediado.
O tédio vem sem avisar, mas com aviso prévio. Vem se instalar. Não se percebe sua presença, e nem se vê sua aparência, mas se sente suas consequências.
Péssimo é ser entediado sem se incomodar. Rotina... Seja itinerante, mas nunca terminante em aceitar.
O tédio escurece, pois as trevas dissolvem a sabedoria. Toma forma em vida, pois dentro de ti ainda escuto batidas.
O tédio é a rotina de nada se fazer. A presciência de que nada se fará. A vontade de fazer, mas o desânimo a executar.
O tédio não destrói o pensamento, apenas rouba-o. Furta, apenas para lhe introduzir suas ideias ocas. Nem chega aos pés das ideias tolas. Não tem o brilho das ideias loucas.
O tédio não constrói um pensador. A ferramenta do filósofo é o questionamento. O princípio do tédio é o aprisionamento.
O tédio é capaz de libertar os demônios mais ocultos da mente. Mesmo ao silêncio, rasgam nosso espírito com ruídos estridentes.
Tédio... Mas que nada de nada. Procurei entender. A resposta não apareceu. A vela já derrete e tudo começa a escurecer. Pensei que o tivesse matado. Estou tão entediado que vou parar de escrever.