Sobras de mim

Quando me vejo de repente no espelho me choco

Eu acho que não sou eu

Quando me escuto na caixa de som

Na primeira audição, duvido ser voz que Deus me deu

Quando o meu terapeuta pergunta se me ouvi

Tomo um susto com as palavras que proferi

Quando perco o controle numa discussão

Nem vejo a transformação

E nos etílicos efeitos quando encontro jeitos

Pra meter os peitos

Trocar os pés pelas mãos

Quando conto uma piada ou canto uma canção

E logo caio em depressão

Numa riqueza sem razão

Ou num arroubo, um valentão

Nos desesperos de desemprego, saúde ou dinheiro

Nos desassossegos de brigas doídas

Em que nada justifica a vida

Nem sei se sou eu mesmo não

Não me reconheço na decepção

Por mais que prepare o meu coração

Também me assusto com custo que dá

Manter-me no resto do tempo sem nada disso vir a me afetar