Poema de morte

A morte com a borracha que apaga sonhos,

me olha disfarçando certo brilho nos olhos;

como se eu não soubesse ler esses cenhos,

ou misturasse incauto, alhos com bugalhos;

não abro mão da vida, por cerrar os punhos,

pois, os sonhos, renovam-se mesmo velhos;

Afinal, a vida com o seu pulso inda encoraja,

abrir por muito tempo esses cansados cílios;

onde morre uma erva outra nova logo viceja,

a natureza não cansa de gerar outros, filhos;

se desventura nos toma e sem pejo nos mija,

sorte revida novo cálice refulge seus brilhos;

O morrer faz parte da vida, a mais fria parte,

e nos descarta, como se fôssemos, entulho;

na larga queda de braço, vence o mais forte,

e o frágil some, n’algum obscuro embrulho;

aí, urge que pendências vivas logo se acerte,

caso venha ser muito intenso, o frio de julho;

Porém, não digo que a morte seja assassina,

pois, ela, só em tempo embranquece o trigo,

pega-nos quando ainda sem sono e nos nina,

mas, não transgride nunca as regras do jogo;

se, nós escolhemos virar uma errada esquina,

foice d’outro nos pega, somos culpados, logo.

Então, por iniciativa dela, só em tempo, vem,

se, é loucura não temê-la, entonces loco soy;

muitos, não vivem sequer, uma parte de cem,

por terem lavado suas vidas como, xucro boi;

no tempo certo, acho a dona morte, um bem,

educada, que só vem depois que a vida já foi...